domingo, 23 de novembro de 2008

Problemas novos, soluções antigas.


A história avança e traz as mudanças na dinâmica da nossa vida. Ela é o resultado das novidades que produzimos primeiro ao nível da mente, dos pensamentos e depois da prática do dia a dia. A mesma história, nos últimos registros a partir de 1637, com o filósofo e matemático René Decarte, que propõe um método de pensar, mostra que passamos de uma forma religiosa de ver o mundo para uma forma cartesiana de ver a vida.

Isso implica em que não nos baseamos mais nos velhos conceitos de teologia apenas, mas abstraímos sobre Deus a partir de nós mesmos com método para nossas convicções sobre o que é verdadeiro ou não.
Desenvolvemos, a partir daí, novos conhecimentos. As tecnologias passaram a ganhar terreno em nossas vidas e esse espaço deu lugar ao conteúdo proveniente do resultado de nossos pensamentos mecanicistas.

Com a revolução industrial também mudamos o lugar do status do trabalhador. Agora quem tem as ferramentas é quem manda no outro. Os grandes industriais tiraram os artesãos de suas casas e os transformaram em assalariados profissionais. Veio o crescimento financeiro no meio da família. O tempo passou e rápido passou a estabilidade no emprego. Por causa das novas tecnologias foram precisos novos conhecimentos em novos profissionais. Novos pensadores surgiram no campo do trabalho e novas revoluções tomaram lugar. Na medida em que as máquinas tornam-se obsoletas, a mão de obra humana também.

Em novos tempos, termos como informação, conhecimento, competitividade, tecnologia e competência com agilidade são a tônica do trabalho. Esses conceitos, mais que teorias para os negócios globais, são o moto que estressa a maioria das pessoas conectadas em redes de consumo desmedido e despropositado, sem conexão com o ser.

O ser a que me refiro é o eu, a alma ou se preferir o espírito. É aquilo o que dá consistência à vida, o que dá o propósito e o senso de existência. A razão da vida não é o consumo de coisas, tampouco tem a ver com fazer coleção de objetos. Em um nível mais sutil, não tem a ver com viver de status, mas de desempenhar um comportamento que reflita uma ética, uma vocação. Ser útil através de uma vida produtiva não significa trabalhar em uma fábrica em troca de um salário que lhe dê condições de consumir coisas; significa ser útil num sentido mais amplo, fazer parte de uma comunidade, por exemplo, defender valores para a vida sadia e desenvolver condutas que reflitam os princípios de um mundo melhor, o que inclui a vida profissional.

Ser consumista apenas é ser pequeno. E os sistemas de vida atuais estão fazendo isso com as massas. Refiro-me ao que se vê nas grandes mídias do mundo, na busca por clientes, na massificação da propaganda, na banalização de valores em troca de pontos de audiência.

Arrisco afirmar que o capitalismo é um sistema passageiro e veio para que se desenvolvessem características no homem ainda não estabelecidas. Assim também se deu com os sistemas anteriores. Na medida em que cumprem sua missão, deixam lugar a outro mais necessário.

Os bens materiais, resultado da inteligência aplicada no desenvolvimento tecnológico não têm consistência como centro da natureza humana e isso o homem tem a capacidade de intuir. Porém, roubado que está em sua consciência pelos meios de subsistência e competitividade nos ambientes profissionais, não consegue mais se posicionar adequadamente como um ser em busca de sua humanidade. Transformou-se numa massa heterogênea e moldada ao prazer dos poderosos do mundo. E pelo que é que os donos dos sistemas fazem isso tudo com a massa? Pelo dinheiro que a massa alienada e refém pode lhes dar.

Para ser feliz o homem precisa apenas de si mesmo, ainda que sem prescindir do trabalho, do salário e da matéria nessa busca.
Assim, os casais vivem seus problemas. Esses, configurados conforme nossa modernidade são seus apêndices. Todo casamento, sem distinção vai vivê-los e o que lhes diferencia é o como são encarados e administrados.
Porém, novos ou antigos, as soluções para os problemas são sempre as mesmas. Há que se desenvolver as habilidades que desencadeiam as soluções.

Os problemas
A mulher bisbilhota o celular do marido em busca de alguma pista que denuncie uma possível “escapada” do cônjuge ou que justifique a própria insegurança.

- quem é essa tal de Gisele que te mandou esse torpedo?
- Quem?
- Gi-se-le, soletra com ar de te peguei.
O homem, franzindo a sobrancelha tenta lembrar.
-ah sim. É a mulher da empresa de moto boy de quem eu contratei o serviço ontem confirmando a entrega dos documentos.

Os aparelhos eletrônicos podem se transformar em meios de discórdia no lar, ainda que não tenham sido criados para isso.

Uma vizinha descobriu que seu marido tinha um segundo relacionamento que foi desenvolvido através das salas de bate papo, os famosos chats de internet.

A esposa verifica a página do site de relacionamento do marido:
-quem é essa piranha que te enviou esse recado no seu Orkut?
-sei lá, esse Orkut é terra de ninguém, as pessoas entram na minha página porque querem.

Imagine se as portas de nossa casa fossem abertas a quem quisesse entrar e vasculhar nossa intimidade, deixar sua opinião e sair como entrou, sem ser chamado. As facilidades que a tecnologia de telecomunicação nos dá, exige do homem o uso de modelos de relacionamento. O excesso de liberdade confunde-se com libertinagem, desfaz velhos padrões e confunde os conceitos de relacionamento.

O velho: “entre e fique a vontade”, não faz o menor sentido nos ambientes virtuais de relacionamento, ali o que vale é o entre, mesmo sem ser convidado. Os contatos são facilitados pelas conexões, basta acessar a rede virtual e pronto entramos na intimidade de qualquer um que tenha seus detalhes depositados na internet.

Temos uma vizinha que nunca bate na porta de casa, vai entrando e falando o que quer como se já estivesse na sala o tempo todo. Qualquer dia desses pode encontrar alguém em situação inesperada. Essa parece já ser uma vítima da desconstrução dos limites de educação nos relacionamentos que os meios virtuais facilitam.

Disputas de poder para assistir o filme, a novela, o documentário no horário programado quando o outro também quer assistir a TV em outro canal. Discussões por causa de quem tem o direito de acessar a internet num momento ou noutro.
-mas eu tenho um e-mail urgente pra enviar agora!!!
-e eu preciso ver se meu professor da pós-graduação aceitou meu trabalho!!!

Diálogos como esses nos levam a comprar mais coisas. Afinal é melhor que cada um tenha sua televisão e seu computador e seu celular, etc. ainda bem que fogão tem várias bocas desde sempre e um só ainda alimenta as várias bocas de uma casa. Já imaginou uma cozinha em cada quarto? Certamente alguém ia faturar mais com os cursos de culinária..
Pensando bem, algumas criações antigas pensavam no compartilhamento, as mais atuais pensam no individual.

Seja como for, a vida corre e precisamos conviver!

Nosso foco aqui são os problemas e suas soluções.

Espaços e coisas a compartilhar.
Vejamos por onde passam os problemas. Temos nas famílias uma necessidade de paciência e entendimento diferente da que temos com pessoas de fora de nossa casa. É uma condescendência maior, é ceder mais que o normal. Não há medida para isso.
Os pais com filhos cedem a TV para os mesmos, porém, devem decidir quais os programas permitidos conforme seu modo de ser e sua visão sobre o que é bom para as crianças desde que se observe a faixa etária. Mesmo cedendo têm seus programas preferidos e até necessários, os quais devem ser conhecidos dos pequenos para que respeitem esse tempo como sendo do pai ou mãe. Elas devem ter seus filmes e também podem ter sua própria televisão, mas nada substitui a companhia dos pais em todos os momentos. E nos momentos em que não estiverem juntos, as crianças devem seguir as regras dos pais.

Ainda com os filhos, os pais compartilham o mesmo espaço do banheiro. Nesse caso, os limites devem seguir a observação da faixa etária. Acima dos oito anos as crianças começam a incluir uma visão diferente sobre o corpo a após os doze ou treze anos, já entendem sensualidade, ainda que algumas sejam mais precoces nesse aspecto, influenciadas pelos meios de mídia, principalmente a televisão, a internet e os jogos.

As crianças necessitam e esperam que seus pais cuidem deles. Os limites, as regras, a companhia, o reconhecimento, o afeto, o ensino, são os elementos que vão construir o caráter de seu filho, sem eles a criança ainda assim vai aprender, resta saber o que e de quem.

A escola tem sua parcela de responsabilidade na educação de nossos filhos e seguem suas regras. Os pais devem estar por dentro dos conteúdos educacionais ministrados para seus pequenos nas instituições que escolheram para eles. Compartilhar esses conteúdos com os filhos vai-lhes dar um senso de segurança e confiança para continuar.

Internet e televisão não precisam representar monstros ou inimigos desde que bem direcionados. Doses diárias de no máximo duas horas para seus filhos de até os seis anos devem ser um limite. Filtros para sites impróprios são recomendados, caso você nem sempre possa estar por perto quando eles acessam a rede. As novelas podem conter cenas de sexo e violência, bem como os filmes podem trazer imagens e contextos que causem medo e confusão por serem impróprios para a idade. As crianças devem ser observadas no dia a dia com relação a alterações de comportamento, e caso ocorram, decisões devem ser tomadas com relação a restrições de programas a assistir.
Dialogar sobre conteúdos que são vistos também deve fazer parte da rotina. Criança bem direcionada é um adulto que não se puni.

A divisão das tarefas.
O marido nunca fica de fora da criação e cuidados dos filhos, pelo menos não deve.
A mãe conduz esses cuidados até próximo da adolescência, quando a ação paterna entra com mais vigor. A mãe representa o cuidado e o afeto e o pai representa a lei, ainda que isso não precise ser uma regra.

O pai também conta estórias para as crianças dormirem e a mãe também deve estabelecer regras de comportamento em casa. A autoridade deve ser desempenhada pelos dois, cada um ao seu modo e sem nunca tirar a autoridade do outro. As dúvidas e desacordos sobre as regras estabelecidas, bem como sobre as ordens dadas devem ser discutidas longe da presença dos filhos.
Os pais devem evitar ao máximo brigarem diante das crianças. Nunca chegar a extremos, e usar um tom de voz que seja sempre adequado ao diálogo, evitando sempre a gritaria.

Diálogo com olho no olho é sempre a melhor saída. Imposições podem levar ao medo, à mágoa e ao ódio. Uma boa conversa com humildade pode fazer milagres em qualquer relacionamento que esteja balançado. É na busca do entendimento que se chega a um termo. As crianças com pais que dialogam são mais seguras e tranqüilas.

A criança não precisa ser tratada como bebê ou como imbecil até a maioridade, mas precisa ter seu espaço garantido em todas as situações que a envolvam. Não é bom que se sinta excluída, como também responsável por tudo. Tentar fazê-la culpada por tudo o que acontece é um grande erro que torna a criança uma pessoa com baixa auto-estima. Afirmar pra criança que ela não é capaz de realizar uma tarefa é cruelmente eficaz, porque ele acredita nisso e passa a não desenvolver bem suas habilidades.

Uma das responsabilidades dos pais com seus filhos é com relação à vocação dos mesmos. Cada pessoa tem uma vocação para a qual nasceu e deverá descobrir qual seja esta de maneira que encontre o caminho de sua felicidade e utilidade na vida. Caso contrário pode se tornar apática e infeliz, tendo problemas infindos no âmbito profissional. Os pais, portanto devem ajudar seus filhos na busca dessa vocação e estimulá-los nesse sentido.

Essas dicas são colocadas com relação a pais e filhos por um motivo muito especial.

Tudo o que pode ser usado com as crianças também o pode com seu parceiro. Veja que, apesar de considerarmos à parte o fato de ser um adulto com quem nos relacionamos, a grande maioria das dicas acima pode ser usada com o seu parceiro.

Regras, afeto, diálogo, reconhecimento são aspectos da relação que precisam ter um controle de ambas as partes, afinal, quase tudo o que temos com o outro é a possibilidade de um relacionamento. Se a qualidade do relacionamento não recebe o investimento necessário, ele se deteriora, assim como tudo nessa vida. Por isso, invista em seu relacionamento. Trate seu parceiro com o mesmo cuidado com que trata uma criança. Saiba que a delicadeza do humano é grande. Que o humano é um ser em construção, que tem dúvidas e conflitos, que tem carências e desejos, que vive de afinidades, que se motiva a fazer coisas as quais espera sentir algum prazer ou senso de utilidade, entre tantas outras coisas.

Somos um universo de possibilidades e precisamos encontrar alguém que queira explorar o sentido da vida, a riqueza da alma, a alegria de viver, o equilíbrio, o entendimento e o crescimento mútuo. Alguém que queira nos ouvir e saiba ouvir, cativar e ser cativado, confiar e ser confiável, que contribua e aceite nossa contribuição, enfim alguém que faça diferença em nossa vida.

A felicidade e o outro.
Certamente cada um só dá o que tem. E há dois pontos a serem considerados aqui. Um é o relacionamento como uma via de mão dupla e que depende do compartilhamento. Outro é o posicionamento individual.

O que tratei até aqui foi no aspecto do relacionamento compartilhado. Quando falo em posicionamento individual no relacionamento, me refiro a como cada um se conduz dentro desse relacionamento. Como se posiciona.

Minha visão sobre isso é que eu devo olhar o outro como alguém para fazer feliz.

Nesse ponto quero deixar claro que aquele que não busca sua própria felicidade tampouco poderá se tornar feliz através de outra pessoa. Dessa forma, para que minha fala não se torne sem efeito, necessário se faz uma correção para um melhor entendimento. Para mim, fazer o outro feliz não significa transformar a pessoa de infeliz em feliz, mas proporcionar que sua felicidade possa ser vivida na plenitude ao seu lado.

Relembro o que já disse nesse capítulo, só precisamos de nós mesmo para ser felizes. Ninguém pode fazer outra pessoa feliz. Dinheiro ou bens não traz a verdadeira felicidade que invariavelmente vem de dentro, vem da alma, do ser. A felicidade procede de um relacionamento vertical e não horizontal, portanto não perca tempo de sua vida buscando sua felicidade no outro ou tentando fazer o outro feliz. O máximo que podemos fazer através de um relacionamento é vivermos nossa felicidade com o outro.

O ideal para o casal com relação à felicidade é que cada um o seja em si mesmo, viva-a, compartilhando com o outro e também proporcione maneiras de o outro viver a sua a seu lado.

Gosto de uma frase de Shakespeare sobre isso: “Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais”.

Não tenho a pretensão de esgotar esse assunto, mas gostaria que as pessoas ao lerem esse capítulo pudessem experimentar a possibilidade que existe em seus corações de viver uma vida a dois muito satisfatória.

A realidade.
Temos uma vizinha que grita com seu filho único cada palavra que lhe dirige e ao final de cada frase termina com “que saco”. O marido não fala nada e só dá risada.
Outra vizinha que grita com sua filha mais velha e nunca com seu filho menor, de outro pai. A mais velha já gritou de volta que lhe odeia por várias vezes e o pequeno vive gritando para elas pararem.

Um casal que teve problemas com marginais porque seu marido advogado defendeu uma causa criminal e foram ameaçados de morte tiveram que se separar; a esposa e os filhos mudaram de estado e o marido permaneceu só.

Marido e mulher de uma família aparentemente perfeita brigam durante a reforma do apartamento, o marido diz que ela é uma maldição em sua vida.
Uma esposa se vê constrangida a pedir perdão para a sogra com quem havia brigado e não conversava por anos após a mesma ficar doente e precisar de sua ajuda.

Esposa sai de casa porque não tinha a atenção do marido que dedicava à sua mãe e irmãos.

O marido alcoólatra nunca reconheceu os cuidados e paciência da esposa dedicada e amorosa até que começou a cair na rua e ficar doente.

O marido separa-se por não concordar com a religião da esposa.
São apenas alguns dos casos que presenciamos ao longo de nosso casamento. Muito mais e piores coisas ouvimos falar ou presenciamos de longe.

No casamento não existem regras que possam torná-lo perfeito, por isso falo da vontade que deve ser aplicada com força e propósito.

Casamento é uma idéia de união perfeita que só se sustenta com o propósito claro e bem definido de ambas as partes, além da ação no sentido do bem comum do casal.

Engana-se quem pensa que tudo pode se conduzir sem esforço e paciência. Muitas vezes frustra-se um plano por amor do parceiro.

A união deve ser vista como uma grande oportunidade de crescimento comum. Conhecemos muito do outro ao longo do tempo. Ninguém permanece a mesma pessoa por toda a vida e o casal deve se adaptar todo o tempo com o parceiro, sabendo que o outro se torna semelhante a você em função da convivência, bem como você adota em sua personalidade alguma característica do outro.

O amor maduro aparece ao longo do tempo e cresce junto com o respeito, a confiança e a cumplicidade. Acostumamos com as manias e respeitamos as limitações. Aprendemos a conviver com o que não nos agrada no outro, bem como com suas virtudes.

Enfim, para resolver problemas, seja modernos ou antigos, nada como estabelecer e perseguir propósitos juntos. Traçar metas que estejam de acordo com a vontade de ambos e na medida de suas capacidades.

O mais importante é que tudo seja conversado e esclarecido ao longo da relação. Que saibam buscar ajuda fora de casa quando não conseguem resolver suas questões entre quatro paredes. Que, acima de tudo, tenham como base do relacionamento, a preservação da união a qualquer custo para que o amor permaneça e tenha seu espaço garantido para o crescimento.

Assim o amor será a tônica principal do casal e será mais fácil suportar as agruras da vida a dois.

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